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DIÁLOGO 23

CLIMA E EDUCAÇÃO

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A IMPORTÂNCIA DO CLIMA NA EDUCAÇÃO E DA EDUCAÇÃO PARA O CLIMA

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Diálogos Futuro Sustentável discute, em São Paulo, mudanças climáticas na educação, com presença de representante do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.

A educação é essencial para o pleno exercício da cidadania, o que torna a introdução e abordagem de assuntos ligados às mudanças climáticas e de preservação do meio ambiente no ensino em todos os níveis questões estratégicas para o Brasil nestes tempos de emergência planetária. Só com a educação ambiental os brasileiros poderão decidir com consciência, sabedoria e soberania os rumos do país na transição para o futuro de uma economia verde e sustentável. Caminho que passa por uma visão interdisciplinar do tema, promovendo a inclusão e com a participação da sociedade civil na sua elaboração.

Estes foram o diagnóstico e as recomendações deixados pela 23ª edição do “Diálogos Futuro Sustentável”, projeto coordenado pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) em parceria com a Embaixada da Alemanha no Brasil, Consulado Geral da República Federal da Alemanha em São Paulo, e apoio do Instituto Unibanco, em seminário realizado na manhã desta quarta-feira na sede do Instituto Unibanco, em São Paulo. O encontro teve a presença de Jennifer Morgan, representante especial para Política Climática Internacional do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha; Ilka Hirt, subsecretária de Assuntos Internacionais do Ministério do Meio Ambiente, Conservação da Natureza, Segurança Nuclear e Proteção do Consumidor da Alemanha; Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco; Dácio Roberto Matheus, vice-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e reitor da Universidade Federal do ABC (UFABC); e de Telmiston Pereira Carvalho Filho Guajajara, diretor de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE) e indígena, com mediação de Marina Marçal, coordenadora do Portfólio de Política Climática do iCS.

O evento teve início com uma breve apresentação por Ana Toni, diretora executiva do iCS, e Martina Hackelberg, cônsul-geral da Alemanha em São Paulo. Primeira a falar, Hackelberg destacou como o projeto estimula a troca de ideias entre atores brasileiros e alemães sobre desenvolvimento sustentável, em uma amostra da importância da parceria entre governos e sociedade civil no enfrentamento da crise climática.

“Para o governo alemão, a emergência climática e a transição para uma economia verde são preocupações essenciais”, disse. “Mas sem dúvida precisamos do entendimento e do apoio da sociedade civil para implementar e avançar medidas para mais proteção climática. De fato, muitas vezes são as demandas da própria sociedade que dão o impulso necessário para isso”.

Ana Toni, por sua vez, aproveitou para ressaltar como a sociedade civil brasileira acabou tendo que assumir o protagonismo nas discussões climáticas nos últimos quatro anos diante do negacionismo e a pouca atenção dada ao tema pelo governo nos últimos quatro anos.

“Nestes últimos quatro anos foi a sociedade civil brasileira que foi a verdadeira diplomata do clima, que representou o Brasil seja aqui, com estas parcerias, seja nas COPs (sigla em inglês para as reuniões anuais da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima), que mostrou para o mundo que a sociedade brasileira, o setor privado brasileiro, entes subnacionais estavam querendo fazer parte do debate climático”, contou. “Acreditamos que o Brasil tem um papel muitíssimo importante neste debate, e estes Diálogos foram fundamentais como veículo para reafirmarmos essa diplomacia que a sociedade civil brasileira tem feito”. Daí também a importância de se debater a educação ambiental no país, acrescentou a diretora executiva do iCS:

“A sensação que temos é que no Brasil a educação ainda não abraçou o tema climático, e o campo climático ainda não abraçou a educação. Vamos ver o que aconteceu na Alemanha, aprender e fazer aqui do nosso jeito”.

Abrindo os debates, Jennifer Morgan, representante especial para Política Climática Internacional do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, lembrou a urgência no combate às mudanças climáticas, com principalmente os jovens pedindo pressa na implantação de medidas e políticas que ajudem a enfrentar o problema. Situação que reforça a importância da educação ambiental no Brasil, para que não seja só um ator mas também líder nas discussões globais, pois quanto mais os brasileiros tiverem educação e acesso à informação sobre este tema, mais apto o país estará para exercer esta liderança.

“Só alcançamos globalmente o que conseguimos fazer localmente, e é aí que a educação e o empoderamento entram definitivamente”, considerou, para depois citar partes do discurso do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, na abertura da recente COP-27 em Sharm el-Sheikh, Egito, em que alertou que o mundo está “na estrada para o inferno climático”, sendo a escolha “cooperar ou perecer”. “Acrescentaria que temos a escolha de moldar uma transformação econômica justa rumo a um futuro igualitário e sustentável de zero carbono criando este futuro juntos”.

Segundo Morgan, esta transformação inclui proteger o meio ambiente, investir em energias renováveis e criar uma bioeconomia justa num processo que deve ser encabeçado pela própria sociedade, e não “deixar nas mãos dos outros”, de forma a efetivamente tirar o mundo da atual trajetória de aquecimento muito acima da meta de 1,5 grau Celsius fixada no Acordo de Paris em 2015.

“Estamos lutando por uma transformação que seja justa e inclusiva e não deixe ninguém para trás, sem importar sua etnia, procedência geográfica e socioeconômica, ou seu gênero ou idade, que tire as comunidades vulneráveis da pobreza e ajude a lutar contra a fome e a pobreza também”, disse. “Estamos aqui no Brasil porque nosso governo está procurando por parceiros para isso, alianças, parceiros que compartilhem de nossos valores e possamos trabalhar olho no olho para manter este 1,5 grau à vista, avançar em uma ambiciosa agenda de transformação social e ecológica que seja baseada em direitos humanos e padrões ambientais sólidos. Achamos que o Brasil pode e deve ser um forte parceiro nesta transformação global por ser uma superpotência ambiental, apontando o caminho à frente nesta crise”.

A seguir, Ilka Hirt, subsecretária de Assuntos Internacionais do Ministério do Meio Ambiente, Conservação da Natureza, Segurança Nuclear e Proteção do Consumidor da Alemanha, listou os muitos aspectos da política climática alemã, que vão da proteção do ambiente à restauração de florestas e promoção da economia circular, e seu potencial de projetos conjuntos com o Brasil para depois destacar a importância da sociedade civil neste processo, especialmente na área da educação ambiental.

Segundo Hirt, este é o tipo de iniciativa que não deve ser imposto de cima para baixo por governos, mas a partir da própria sociedade, até porque cada país tem suas próprias características e necessidades. Mãe de duas crianças, ela deu como exemplo sua experiência com a educação ambiental nas escolas alemãs, que tem como referência o programa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura para 2030, dividido em quatro “dimensões”: apoiar os alunos em ações transformativas, “não apenas dizendo o que devem fazer, mas os empoderando para pensarem por si mesmos, questionar e contradizer”; fomentar e facilitar mudanças estruturais nos sistemas educacionais; alavancar os potenciais dos avanços tecnológicos na educação; e desenvolver e usar critérios abrangentes em todos projetos educacionais, focando em participação, aprendizado conjunto e acesso ao conhecimento. “O sistema educacional alemão encoraja muito a controvérsia e o debate. Discutimos muito nas salas de aula alemãs, podemos questionar o que os professores estão dizendo e propor nossos próprios temas, e estou muito curiosa para saber como é o ambiente escolar no Brasil”, concluiu.

Dando continuidade às discussões, Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco, também ressaltou a ligação entre educação ambiental e empoderamento como forma de garantir não só os direitos fundamentais dos indivíduos como a soberania do país nas discussões climáticas.

“Se não pensarmos num ecossistema de modelagem do desenvolvimento em direção a uma economia verde junto com a educação, corremos o risco de termos uma agenda subordinada ao processo internacional por não conseguirmos criar atores formados com qualidade alta suficiente para estarem conectados com a nova economia”, alertou. “O desafio da educação brasileira é de reposicionamento da cidadania e, considerando a desigualdade que temos hoje, darmos um salto para podermos, simultaneamente ao processo de remodelagem da agenda de desenvolvimento econômico, construir capacidades, competências disseminadas desde a primeira infância até o pós-doutorado que nos permitam ter uma inserção soberana no novo arranjo internacional, e na formação da mão de obra do futuro que a gente quer”.

Segundo Henriques, no Brasil esta transformação da educação passa por três eixos. O primeiro é o reconhecimento das profundas desigualdades no país, principalmente na Amazônia, onde o acesso ao ensino em todos níveis, da creche e fundamental ao médio e superior, é menor e mais precário que em outras regiões.

“Basicamente o Brasil segue de costas para a Amazônia”, criticou. “Mas também precisamos dar conta de que esta inserção não seja só escuta, para que a população amazônica também tenha um papel ativo nas discussões ambientais”. O segundo é aproveitar o momento de retomada da agenda do clima e da educação após o retrocesso dos últimos anos nas políticas públicas para montar uma estratégia de letramento climático e científico que comece já na infância e perpasse todo processo de formação de forma a enfrentar a cultura do negacionismo alimentada pela extrema-direita no país. “Para além da junção óbvia com a cidadania, a garantia de direitos e o empoderamento, a educação também deve projetar uma sociedade que recusa e rechaça o negacionismo”, avaliou.

Por fim, o pretendido “salto” na educação brasileira deve ser articulado com uma trajetória formativa que atenda as necessidades da transição para uma economia verde e sustentável, a uma nova configuração do mundo do trabalho que está distante do atual modelo educacional brasileiro.

 

“Devemos estar atentos à formação de capital humano para este futuro”, resumiu.

 

Neste sentido, Dácio Roberto Matheus, vice-presidente da Andifes, reitor da UFABC e palestrante seguinte, destacou a importância de políticas de inclusão. Segundo ele, hoje cerca de 60% dos alunos das universidades públicas brasileiras são oriundos de políticas afirmativas. Mas só dar acesso não basta. Estes alunos também precisam de permanência e assistência estudantil que lhes permitam concluir seus cursos.

 

“O que não podemos mais é desperdiçar os cérebros e talentos riquíssimos que temos à medida que não damos a estas populações acesso ao ensino superior e lhes dar a capacitação para enfrentar e participar efetivamente da solução dos problemas que enfrentamos”, considerou.

 

Outra estratégia importante apontada por Matheus é a interdisciplinaridade, dando como exemplo projeto iniciado na UFABC há 16 anos. Segundo ele, não basta formar um engenheiro se ele não tem nenhuma sensibilidade social, política ou econômica, ou um médico que possa tratar um atropelado, mas não respeite um sinal vermelho.

 

“Temos que formar pessoas que antes de serem bons profissionais sejam um cidadão”, defendeu. “E aí entra a agenda climática. Temos que formar filósofos e cientistas sociais que entendam os limites da termodinâmica, dos limites do planeta, das leis da física, ao mesmo tempo que temos que formar engenheiros e engenheiras que entendam e saibam que nossas tecnologias geram impactos num planeta que com sete bilhões de seres humanos já está infelizmente há algumas décadas mostrando que está no seu limite”.

Encarnando justamente tanto a inclusão quanto a interdisciplinaridade estava o último a fazer sua apresentação no evento, Telmiston Pereira Carvalho Filho Guajajara. Estudante de Direito da Universidade Federal do Pará (UFPA) e diretor de Cultura da UNE, o indígena vindo de uma tribo da Amazônia maranhense cobrou mais investimentos no sistema educacional brasileiro como um todo, dado que a educação é um processo continuado, e não pontual. Assim, acredita, o Brasil será capaz de capacitar sua população para enfrentar o desafio das mudanças climáticas nos mais diversos níveis.

 

“Educar sobre meio ambiente não é desenhar árvore na escola”, criticou. “Por isso o debate deve ser permanente. Temos pouco investimento em ciência. Mas também não há sociedade evoluída só com ciências humanas ou exatas. Por isso precisamos de interdisciplinaridade, para buscar as soluções e saídas que tanto precisamos”.

 

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