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Diferentes palestrantes levantaram a questão da desigualdade do acesso a recursos básicos para a sobrevivência como ponto crucial da questão de clima e segurança. Monica Herz, professora do IRI/ PUC-Rio, lembrou que é preciso garantir, através de uma agenda política progressista, a integridade daqueles que vêm lutando em campo na proteção ao meio ambiente.

Juana Kweitel, diretora executiva da Conectas Direitos Humanos, demonstrou grande preocupação em fortalecer as políticas de proteção aos ambientalistas, combatendo a impunidade.

As ameaças à região amazônica foram lembradas por Marianela Curi, da Fundação Futuro Latinoamericano, do Equador, que destacou a importância da floresta para a segurança hídrica, alimentar, energética e de saúde. E Yves Sassenrath, da UNFPA Brasil, afirmou que as populações menos favorecidas são também as mais vulneráveis aos riscos climáticos.

UM ENCONTRO MARCADO PELA DIVERSIDADE DE OLHARES SOBRE SEGURANÇA E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

A realização do Encontro Internacional sobre Clima e Segurança motivou diversas contribuições ao debate, que reuniu representantes de governos, sociedade civil e academia em mais um evento da série Diálogos Futuro Sustentável, no dia 18 de maio de 2018, no Rio de Janeiro, como resultado de uma parceria entre a Embaixada da Alemanha, o iCS e o Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio (IRI).

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“Enquanto falamos de adaptação e segurança, abrimos todo um leque de novas demandas de ação e planejamento para uma maior efetividade das políticas públicas. Estamos falando de estradas, portos, edifícios e de toda uma infraestrutura de logística que terá que ser reconsiderada, desde sua concepção, diante do risco climático. Se não o fizermos, podemos torná-la obsoleta em questão de anos.”

Ana Toni

Diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade iCS

Georg Witschel

Embaixador da Alemanha no Brasil

DIÁLOGO 3

CLIMA E SEGURANÇA

   UMA POLÍTICA DE SEGURANÇA PREVENTIVA PRECISA ATUAR AMPLAMENTE CONTRA TODOS OS RISCOS E POTENCIAIS DE CONFLITO QUE POSSAM COMPROMETER NOSSA SEGURANÇA, TANTO NA POLÍTICA INTERNA QUANTO NA POLÍTICA EXTERNA. A MUDANÇA CLIMÁTICA É UM MULTIPLICADOR DE RISCOS COM GRANDE POTENCIAL DE CONFLITOS.

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Georg Witschel

RELAÇÃO ENTRE SEGURANÇA E CLIMA

Ao abrir o encontro, o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, destacou que as mudanças climáticas implicam em riscos com grande potencial de geração de conflitos internos e externos às nações, como escassez de água e de alimentos, migrações e eventos climáticos extremos. E que, portanto, é urgente colocar a segurança na agenda do clima.

Ana Toni, diretora executiva do iCS, afirmou que é preciso atrelar, através do debate público, as diferentes abordagens sobre clima e segurança ao atendimento das demandas que esses riscos geram; aprofundar o conhecimento sobre as vulnerabilidades e organizar arranjos internacionais para garantir as condições necessárias à sobrevivência da vida humana.

CLIMA, SEGURANÇA E DIREITOS HUMANOS

“Não se pode mais falar em segurança sem falar nos direitos da terra, nos direitos socioambientais”

Juana Kweitel,

Diretora executiva da Conectas Direitos Humanos

RISCOS GLOBAIS

Para os palestrantes é imprescindível recorrer a dados científicos que permitam estudar os riscos, as vulnerabilidades e estabelecer prioridades de ação, local e globalmente. Alexander Carius, fundador e diretor geral da adelphi, think tank alemã, apresentou uma série de mapas que relacionam mudanças no clima com fragilidades em segurança. Ele destacou que quatro dos cinco principais riscos planetários apontados no relatório Global Risks Landscape 2018, do Fórum Econômico Mundial, são consequências diretas dessas alterações: eventos climáticos extremos, escassez de água, fracasso de medidas de adaptação ou mitigação e desastres naturais.

DESENVOLVIMENTO E INFRAESTRUTURA

“Os dados nos colocam, enquanto sociedade, diante da necessidade de rediscutir normas e mecanismos de governança com rapidez. E, nesse sentido, é um problema de segurança porque estamos diante de conflitos com os quais não conseguimos lidar de forma preventiva, porque o processo de transformação é muito rápido.

Monica Herz

Professora do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio (IRI)

Para a representante do Ministério das Relações Exteriores, Patrícia Leite, o principal desafio no Brasil está em superar as desigualdades e o déficit de implementação de planos e projetos de adaptação às mudanças climáticas. Segundo ela, cabe às nações desenvolvidas, conforme compromisso assumido no Acordo de Paris, garantir ajuda aos países em desenvolvimento para que tornem reais as iniciativas de proteção ao risco climático. Sérgio Margulis, pesquisador do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS), também enfatizou a urgência de desenvolver infraestruturas e medidas de prevenção baseadas em dados, como foco na redução de riscos para a segurança nacional.

John Conger, diretor do Centro Clima e Segurança dos EUA, considera que a capacidade de prever riscos e se antecipar a eles deve ser a principal medida para evitá-los, e que é preciso qualificar as forças de segurança, adaptar a infraestrutura e repensar os processos de desenvolvimento. Conger chamou atenção para a importância da dimensão política a que estão submetidas as demandas e medidas de mitigação e de resiliência, especialmente num país como os EUA, que têm uma grande quantidade de céticos na área ambiental.

SEGURANÇA NACIONAL

Representante das Forças Armadas brasileiras no encontro, o contra-almirante Carlos Eduardo Horta Arentz, subchefe de Política e Estratégia da Chefia de Assuntos Estratégicos do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas do Ministério da Defesa, discutiu as diferentes concepções de segurança e o papel do Estado em sua garantia, inclusive em campos que afetam a segurança nacional, ainda que não sejam estritamente de defesa da soberania. Nesse sentido, as Forças Armadas Brasileiras podem colaborar, caso sejam solicitadas, com outros organismos no apoio a entidades civis, em assistência humanitária e no auxílio em desastres, entre outros.

"Nos Estados Unidos há muitos céticos na área ambiental. Esses mesmos céticos confiam nas forças militares e não confiam nos acadêmicos (...) No ano passado, no Congresso Republicano, houve uma proposta de emenda declarando que a mudança climática deveria ser tida como uma ameaça à soberania nacional. Houve então a demanda por planos de mitigação, apresentados pelos democratas, que receberam votos dos republicanos. Os conservadores se uniram aos democratas para garantir que isso fosse feito (...) O que é importante não é apenas a mensagem, mas o mensageiro. Como convencer as pessoas a ouvirem e fazer com que haja um porta-voz idôneo."

John Conger

Diretor do Centro Clima e Segurança dos EUA

O adido da defesa da Alemanha no Brasil encerrou o encontro com agradecimentos aos organizadores e elogios às contribuições dos especialistas presentes para a compreensão dos desafios futuros.

Fotos: Guillermo Ribas

 

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